Para conseguir emagrecer, Érika Ribeiro Mattos, de 35 anos, precisou, em primeiro lugar, aceitar que tinha um distúrbio alimentar. Depois de admitir sua compulsão por comida, foi preciso entender que ela era a única pessoa responsável pelo seu emagrecimento. Não havia terapia, nem remédio ou cirurgia que pudessem dar a ela um “passaporte mágico” para a magreza.
“Sempre tentei fazer regime com acompanhamento médico e com muitos remédios inibidores de apetite, e sempre sofri do efeito sanfona. Depois de um tempo morando na Holanda, fui até fazer um tratamento em uma clínica para pessoas com distúrbio alimentar. É lógico que nada resolveu, afinal eu sempre achei que o problema era de todo mundo, menos meu. Eu queria a solução, mas não queria ter que resolver o problema”, admite.
“Fui a uma nutricionista daqui e despenquei a chorar. Ela disse que eu precisava ir a um psicólogo e me encaminhou para a clínica especializada em distúrbios alimentares. Fiz tratamento por uns três ou quatro meses, mas além de ser longe da minha casa, por causa da diferença de cultura eu não gostei da abordagem”, conta.
Érika optou, então, por uma cirurgia bariátrica, mas teve o procedimento negado. “Fiz todos os testes numa clínica especializada, mas a parte psicológica me barrou, e não fizeram nada. Apesar de todo o histórico familiar, ninguém nunca chegou a sugerir um tratamento”, comenta. Érika sempre sofreu com o excesso de peso e outras pessoas da família também enfrentam o problema. Seu irmão mais velho morreu de infarto com apenas 30 anos – ele tinha diabetes, pressão alta e era obeso.
Nascida em São José dos Campos, no interior de São Paulo, Érika se casou com um holandês e mudou-se para Arnhem em 2007. Acostumada a tentar controlar seu peso recorrendo a inibidores de apetite, ela engordou ainda mais depois de se mudar para a Holanda, onde este tipo de medicamento não é vendido.
No meio de todo este processo, a pedagoga engravidou. Num país que incentiva o parto domiciliar acompanhado por parteiras, Érika teve que fazer seu pré-natal num hospital, por causa do histórico de saúde e do excesso de peso. No fim da gravidez, ela teve pré-eclâmpsia e o bebê acabou nascendo prematuro, aos 7 meses de gestação. “Depois disso, comecei a engordar, engordar e engordar. Tudo começou a me afetar, a distância do país, da família, problemas do dia a dia.”
Desesperada com esse cenário, Érika tentou novamente se submeter a uma cirurgia de redução de estômago, mas, pela segunda vez, foi impedida. O médico explicou para a brasileira que a cirurgia era arriscada demais, e que não poderia submetê-la a tal risco se fosse para a pedagoga continuar com os hábitos que tinha. “Saí de lá revoltada. E então, decidi: ou eu mudo por mim mesma, ou eu vou morrer.”
A primeira decisão foi tentar controlar os ataques compulsivos, mas sem necessariamente reduzir o volume ou mudar o tipo de comida. Depois de dois meses conseguindo resistir, Érika passou então a controlar a quantidade de comida e a fazer trocas saudáveis.
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Se antes Érika chegava a consumir de 8 mil a 10 mil calorias por dia, segundo ela, hoje o consumo está limitado a até 2 mil calorias. A pedagoga passou a comer de três em três horas e aumentou a ingestão de frutas, salada, iogurte e barrinhas de cereal. “Não fiz dieta, eu controlo os ataques compulsivos – e isso é para o resto da minha vida. Hoje, se você me perguntar, eu sei o que comi o dia inteiro, e isso era impossível antes. Com o tempo, você vê o que funciona e vai se adaptando. Se você me oferecer batata frita, eu vou querer um prato de salada, porque passei a entender a relação de causa e efeito.”
Embora não esteja frequentando a academia com assiduidade – Érika até está inscrita, mas quase nunca vai – ela anda, em média, de 12 km a 15 km de bicicleta por dia, levando o filho na garupa. Ela também tentou correr, mas problemas no joelho fizeram-na diminuir o ritmo e a pedagoga tem optado pela caminhada. Érika já participou duas vezes de um evento de 25 km de caminhada que acontece sempre na Holanda. “São cerca de 6 horas caminhando”, diz.
"Quando eu percebi que o problema era meu, que era eu que tinha realmente que mudar e que ninguém ia fazer nada por mim, foi aí que as coisas começaram a dar certo. (...) É uma luta para o resto da vida.”
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